por José Amaral Neto*
Conforme dados apresentados
pelo Tribunal Superior Eleitoral, TSE, 869 postulantes candidataram-se à
vereança na cidade de Uberlândia, em 2020. No miolo de ocasião, 120 se
declararam da cor preta. Passado o escrutínio permanece a questão: o que
fizeram esses 120, o que fazem e o que farão, em prol da comunidade preta, a partir
de agora?
A pergunta é relevante em
face ao resultado, uma vez que a cobrança veio violenta e virulenta. Fazer
política é uma arte; e é um trabalho onde a tinta faz toda a diferença. Pois é
a cor que dá o tom num tricô, numa paleta para a tela alva, em uma isca pra
pescar, num molde de barro ou argila, numa porcelana.
Nenhum partido político foi
claro e transparente na aplicação de recursos em recorte a essas candidaturas
pretas. A frustração é imensa. Ou houve algum beneficio evidente? As estratégias
de campanha foram montadas sem a visibilidade necessária para a diversidade de
opções. Se não se vê como escolher para além daqueles que já estão.
Senhor candidato, e senhora
candidata, e agora como você vai falar com a comunidade preta? Talvez o momento
ainda seja de repulsa ao resultado. É natural vociferar com a força da bílis;
no entanto, vale também um olhar mais detido na estratégia que escolheu. Se
certa estaria com o mandato. Equívocos ocorrem em qualquer situação ou espaço a
ser conquistado.
Igual a qualquer comunidade,
a preta, também merece reciprocidade permanente. Suas tradições são maiores que
sua cultura. Suas tradições estão baseadas na sua identidade: a de
trabalhadores forçados a desempenharem funções com a força da fé que crê em
algo de bom no que faz. Na sua característica maior: o amor incondicional na
humanidade, mesmo que está lhes tire tudo.
O ideário de pretas, e
pretos, vai muito mais longe do que o momento político: a honra é a amizade; e
é esta que faz o jogo sair do tabuleiro. Fazer campanha focada em um povo que
sabe lidar com aqueles que lhes cortam as asas e insistem que voem, dá a
liberdade em perceber o que é joio e o que é trigo.
Que os 120 se utilizem de sua
auto declaração, nem sempre honesta, para mostrarem serviço agora. O
preconceito vem ganhando força e legitimando o racismo. E isso não é bom para
ninguém. As crianças continuam a perder suas infâncias, pois ainda no século
XXI, a sociedade insiste em não ver que seus pais e mães, são assassinados não
somente na bala, mas muito mais forte em sua dignidade.
Muita pretura na propaganda
dos majoritários, mas nenhuma ação política efetiva foi criada – a cidade
possui 15 secretarias municipais; muitos estão confortáveis com a possível
continuidade em suas funções – entretanto, quantas pretas, e quantos pretos,
estão sendo avaliados para compor a diversidade que a cidade merece ver no
primeiro escalão? Há nomes.
2020 mais que um ano
atípico, ofereceu tempo para reformulação de ideias e mostrou outros caminhos
para que haja pavimentação na estrada da desigualdade. Coragem pra mostrar cor
sem esperar a dor é o fio do momento. #VamosConversando
*Jornalista, Coordenador Executivo do Movimento de Articulação e Integração Propositivo Organizacional, MAIPO
3 comentários:
Parabéns. Texto ESPETACULAR, como sempre. Traduz a verdade explícita em todo o país.
boa reflexão meu irmão. é preciso muito mais que se declarar, é preciso de vontade politica pra mudar, transformar. e, quando chegar no lugar de governo saber perceber que tem o poder e possibilidades de mudanças
É lamentável saber que nenhum candidato negro(a) abraçou realmente a nossa causa racial. Não vi nenhum candidato tentando marcar se quer.uma reunião p/ dar voz a irmandade. A hora era agora!
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