terça-feira, 1 de dezembro de 2020

Sou MAIPO (I)

 

por José Amaral Neto*


Conforme dados apresentados pelo Tribunal Superior Eleitoral, TSE, 869 postulantes candidataram-se à vereança na cidade de Uberlândia, em 2020. No miolo de ocasião, 120 se declararam da cor preta. Passado o escrutínio permanece a questão: o que fizeram esses 120, o que fazem e o que farão, em prol da comunidade preta, a partir de agora?

A pergunta é relevante em face ao resultado, uma vez que a cobrança veio violenta e virulenta. Fazer política é uma arte; e é um trabalho onde a tinta faz toda a diferença. Pois é a cor que dá o tom num tricô, numa paleta para a tela alva, em uma isca pra pescar, num molde de barro ou argila, numa porcelana.

Nenhum partido político foi claro e transparente na aplicação de recursos em recorte a essas candidaturas pretas. A frustração é imensa. Ou houve algum beneficio evidente? As estratégias de campanha foram montadas sem a visibilidade necessária para a diversidade de opções. Se não se vê como escolher para além daqueles que já estão.

Senhor candidato, e senhora candidata, e agora como você vai falar com a comunidade preta? Talvez o momento ainda seja de repulsa ao resultado. É natural vociferar com a força da bílis; no entanto, vale também um olhar mais detido na estratégia que escolheu. Se certa estaria com o mandato. Equívocos ocorrem em qualquer situação ou espaço a ser conquistado.

Igual a qualquer comunidade, a preta, também merece reciprocidade permanente. Suas tradições são maiores que sua cultura. Suas tradições estão baseadas na sua identidade: a de trabalhadores forçados a desempenharem funções com a força da fé que crê em algo de bom no que faz. Na sua característica maior: o amor incondicional na humanidade, mesmo que está lhes tire tudo.

O ideário de pretas, e pretos, vai muito mais longe do que o momento político: a honra é a amizade; e é esta que faz o jogo sair do tabuleiro. Fazer campanha focada em um povo que sabe lidar com aqueles que lhes cortam as asas e insistem que voem, dá a liberdade em perceber o que é joio e o que é trigo.

Que os 120 se utilizem de sua auto declaração, nem sempre honesta, para mostrarem serviço agora. O preconceito vem ganhando força e legitimando o racismo. E isso não é bom para ninguém. As crianças continuam a perder suas infâncias, pois ainda no século XXI, a sociedade insiste em não ver que seus pais e mães, são assassinados não somente na bala, mas muito mais forte em sua dignidade.

Muita pretura na propaganda dos majoritários, mas nenhuma ação política efetiva foi criada – a cidade possui 15 secretarias municipais; muitos estão confortáveis com a possível continuidade em suas funções – entretanto, quantas pretas, e quantos pretos, estão sendo avaliados para compor a diversidade que a cidade merece ver no primeiro escalão? Há nomes.

2020 mais que um ano atípico, ofereceu tempo para reformulação de ideias e mostrou outros caminhos para que haja pavimentação na estrada da desigualdade. Coragem pra mostrar cor sem esperar a dor é o fio do momento. #VamosConversando

             


 *Jornalista, Coordenador Executivo do Movimento de Articulação e Integração Propositivo Organizacional, MAIPO 

3 comentários:

Unknown disse...

Parabéns. Texto ESPETACULAR, como sempre. Traduz a verdade explícita em todo o país.

Unknown disse...

boa reflexão meu irmão. é preciso muito mais que se declarar, é preciso de vontade politica pra mudar, transformar. e, quando chegar no lugar de governo saber perceber que tem o poder e possibilidades de mudanças

Unknown disse...

É lamentável saber que nenhum candidato negro(a) abraçou realmente a nossa causa racial. Não vi nenhum candidato tentando marcar se quer.uma reunião p/ dar voz a irmandade. A hora era agora!